quinta-feira, julho 29

6 pulas num machimbombo





28 de Julho - a viagem até Benguela...
Aterrámos em Luanda pelas 6 da manhã!
O Padre Casimiro estava já à nossa espera com a sua pickup branca à saída do aeroporto enquanto nós os 6 (os grãos e a nossa querida Graça - leiga para o desenvolvimento) passeávamos os nosso cerca de 200kg de bagagem!Seguimos para a Macon para apanhar o último autocarro! Apesar do caótico trânsito de Luanda, conseguimos chegar a tempo! E enfiar os baús na mala do auto-bus?!

E assim começa a nossa épica viagem num machimbombo velho, sujo, azul, branco e chinês com a promessa de que chegaríamos a Benguela às 14 da tarde!!

O tempo foi passando, a paisagem mudando..e uma hora e meia depois estávamos à saída da cidade de Luanda!!

Ficam aqui alguns momentos marcantes da viagem:

- primeira paragem: para urinar..no meio do nada! Entretanto aparece mais um passageiro com os seus haveres que
incluíam - cadeiras de plástico, bacias enormes, malas, gerador, fogão, entre outras coisas. Bom, sobrou para nós que tivemos de trazer malas para dentro do autocarro e como nós outros trouxeram panelas e bacias para dentro que se foram apilhando no corredor do machimbombo.
As crianças vinham a correr para o autocarro com as bacias na cabeça e as mães com os bébés nas costas (bastante querido!)

- segunda paragem: mercado de coisas.
Tudo se vendia. Era uma aldeia ao lado da estrada. A actividade da população é vender coisas para os viajantes (as estações de serviço).
- o Cláudio - conhecemos um senhor novo bastante simpático de Luanda que costuma ir para Benguela em trabalho. Foi muito atencioso connosco e explicava tudo sobre Angola, sobre cada paragem. E foi ele que nos introduziu à Ginguba - uma espécie de amendoim, mas 100 vezes melhor!Tinham barraquinhas de madeira e vendiam desde coca-cola, a fruta, a pão, a óleo de palma, roupa, panos e tudo mais!


- ao fim de 10 horas, depois do sol se pôr, chegámos a Benguela!

Para quem nunca esteve em África a aproximação a Luanda pelo avião é impressionante.... um mar de castanho, em que não se distinguem as casas, as ruas, os passeios.... Choca. Já em terra firme, a imagem dos bairros desde o aeroporto até à Macon é difícil de descrever. Uma amálgama de lixo, trilhos gravados pela água na época das chuvas, um sobe e desce de construção que se vai espalhando a perder de vista e toda uma cidade em obras com slogans de construtoras em cada canto.

Saindo da cidade, o castanho impera, mas na cor da terra e nos embondeiros que surgem aqui e acolá com o mar como pano de fundo. A paisagem é diferente de tudo aquilo a que nos acostumámos. Há oásis que nos surpreendem no meio desta secura africana, em que o verde é senhor e prende o olhar porque tudo é fértil.
Já na província de Benguela a terra é branca, as casas são de terra, os telhados são da mesma cor....... e ao fundo o mar com um bola de fogo a pairar! É verdade que o sol em África é maior. mais intenso, as cores são diferentes!!

E todo o país parece ser assim. Uma surpresa a cada momento.

Ao longo da nossa viagem vimos paisagens lindíssimas e muitos sorrisos. As pessoas vêm ao nosso encontro e mostram-se curiosas em relação a nós, porque estamos cá e porque viajamos assim...... Não é normal os "pulas" no "machimbombo"!!

As Leigas!!! Em dois segundos sentimo-nos em casa!! Uma sensação de "regresso a casa", numa casa que não conhecemos com pessoas que não conhecíamos! Foram incansáveis e o nosso porto de abrigo.

Com elas terminámos o dia, com um belíssimo jantar e uma maravilhosa partilha de experiências de quem abdicou do conforto, da qualidade de vida material que conhecemos, em prol deste povo de Benguela, nos bairros mais carenciados da cidade.....
Como diz a Sónia, "o céu aqui está mais próximo da terra"

A Partida

Chegou o dia.

27 de Julho de 2010 às 17h chegámos ao aeroporto do Porto. Tínhamos ainda algum tempo para as despedidas das pessoas mais queridas. E foram tantas aquelas que nos vieram dar um abraço ao aeroporto! O Grão em peso estava lá (faltou a Inês Alencoão que estava nesse momento a entrar em delírio com o último exame que seria no dia seguinte em Lisboa - e passou! PARABÉNS!).

A azáfama foi muita. E já havia começado bem cedo nesse dia, com o verdadeiro filme Consulado de Angola no Porto, que por extrema simpatia decidiu dar-nos os vistos mesmo mesmo à última da hora. Às 16h, mais precisamente. Viram a hora a que chegamos ao aeroporto?! Pois...enfim, sem cometários. Tudo se resolveu!

Entre abraços e muita emoção da partida, a união foi muito presente. Num abraço revimos todo um ano de enorme esforço e centramos o nosso objectivo, através da magnífica força das palavras do André:

"Por que vão? Para quem vão? Lá só se vão ter aos 5 e vão ser a família uns dos outros. Quando estiverem em baixo olhem para cima e procurem o Pai. É por Ele que vão."

Muitos sorrisos. Algumas lágrimas. Um turbilhão de emoções. Uns minutos depois estávamos só os 5, diante da porta de embarque, em silêncio. Em Paz. Prontos para partir cheios de confiança.

(Aproveitamos para fazer uma breve apresentação dos 5 Grãos, para aqueles que não conhecem:




Zé Maria, 24 anos, do Porto, estudante de Farmácia, responsável pela Saúde e Segurança em Missão;
Teresinha, 19 anos, do Porto estudante de Direito, responsável dos materiais de Missão;
Tiago, 25 anos, do Porto, engenheiro civil, líder do Grupo de Missão;
Carolina, 28 anos, de Guimarães, arquitecta, vice-líder e tesoureira de Missão;
Raquel, 21 anos, de Braga, estudante de Gestão, responsável pela Oração Comunitária em Missão.)

quarta-feira, julho 21

Agora é apenas tempo de partir..

1 ano de Grão nas nossas vidas.
1 ano de formação muito intensa, muito exigente, muito transformadora. E muito, muito gratificante.
É tempo de fazer um balanço, parar para pensar e recordar.


Tantas emoções, paixões, sonhos.
Tantos objectivos, motivações, prioridades.
Tantas perdas, ganhos, dúvidas e apostas.
Inspirações, desolações, compatibilizações.
Reflexões, conversas, conselhos.
Tanta vida.
Entrega.
Deus.


O abraço que demos em Setembro passado foi-se fortalecendo. Esse abraço em forma de vontade missionária envolveu-nos, tornando-se um enorme desafio. Fez-nos querer aprender o Grão em todas as suas facetas, na procura do equilíbrio possível entre os “fascínios da descoberta e a fidelidade ao dia-a-dia”. O abraço fez-se compromisso, e com isso se tornou arrebatador.

Hoje é aqui que queremos estar, mais do que em qualquer outro lugar. Aqui neste conforto, onde nos despojámos de nós e assimilámos o sonho de uma missão que tanto quisemos. Aqui, onde nos desconstruímos e, com isso, fortalecemos aquela que é a verdadeira missão, cá, nas vidas de cada um.
Hoje é tempo de pensar nos sacrifícios que este compromisso exigiu, nos cansaços que pediu de nós. Deixar que a felicidade sobressaia desse cansaço, desfrutar do gosto de juntos termos feito um caminho de entrega, em nome de um projecto em que acreditamos e ajudamos a construir.

Hoje é também tempo para agradecer. Todos aqueles que connosco foram parte deste compromisso e o tornaram possível. E quantos são eles... temos hoje no pensamento e oração os Grãozinhos que começaram esta caminhada connosco e não a puderam terminar. As nossas famílias e amigos mais próximos, por partilharem e alimentarem este sonho ao nosso lado. Os formadores e demais elementos do Grão que dedicadamente nos passam o seu testemunho. O Padre Nuno, guia e amparo de todas as horas, com quem não nos cansamos de aprender e rir. Um obrigado também às entidades que nos deram a mão.

Comungamos hoje, convosco, este terno abraço agradecido.

Agora é tempo lançar com confiança o Grão que construímos. Temos tudo para humildemente acreditar que ele germinará. Agora é tempo de aceitar este envio como culminar de todas as vivências. Um objectivo que se atinge mas que só se cumpre no prolongar dos laços, na continuação da missão da vida.

Agora é apenas tempo de partir.

Missa de envio, 18 de Julho de 2010