sábado, agosto 14

Tché! O Cubal cuia bué!

A simpatia dos cubalenses é sentida todos os dias. Recebemos sempre um “Obrigada sim” quando esboçamos um sorriso ou quando cumprimentamos com um “Bom Dia”, ainda que ensonados.

A pontualidade não está na ordem do dia aqui em Angola. Tudo depende se a luz do sol irradia logo pela manhã ou se fica escondida pela névoa. Se houver névoa não há crianças na rua. Para citar a irmã Teresa Romero, mulher de armas, (que superou um período 114 dias de cativeiro durante a guerra) no seu Portunhol: “É matemático, hasta que salga el sol no hay crianças!”

Na zona da missão, o trabalho das irmãs é verdadeiramente essencial para a população. Um trabalho de décadas (em alguns casos de uma vida) que garante a existência de condições mínimas de saúde, educação, emprego e cooperação comunitária. Sem isso como seria possível garantir alguma paz?

A dedicação das irmãs contagia. De realçar particularmente o exemplo da Avó Geni (Irmã Generosa) que se dedica a esta comunidade há mais de 50 anos e que hoje, com mais de 80, se continua a empenhar de tal forma que no primeiro almoço, em tom de desabafo e gracejo, dizia que precisa de umas férias para morrer, pois não tem tempo. Uma mulher de uma força extraordinária que foi entrevistada na semana passada para que o seu exemplo conste num livro, a ser editado em Espanha pelo jornal ABC, que relata a vida de 50 missionários espanhóis.

Com tanta iniciativa e trabalho, o que é que o Grão pode cá fazer durante dois meses? Tanta coisa que tivemos de seleccionar. Um complexo exercício de discernimento! Apresentamos em seguida o nosso plano de actividades.

O Hospital

O hospital e as instalações de infecto contagiosos e unidade de tuberculosos (Centro TB) são uma referência na província de Benguela pela qualidade da equipa médica (parcialmente mantida pelas irmãs). No entanto, estamos em África e as carências a nível estrutural e material são imensas para acompanhar tanto a afluência como o estado de gravidade de alguns doentes.

Nesta área (infecto-contagiosos e tuberculose) comprometemo-nos com animação dos doentes, em especial das crianças internadas e participação na missa do centro TB. A importância deste “SÓ estar” foi-nos demonstrada na primeira visita quando um dos doentes nos disse “ A vossa visita é, para nós, mais importante do que um comprimido”.

A Escola, os cursos e as acções formativas

Na escola, as Irmãs Teresianas conseguem formar mais de 1500 alunos (do pré-escolar ao 9ºano) divididos em 3 turnos.

O Grão foi imediatamente solicitado para dar cursos de informática e de inglês a formandos que posteriormente possam transmitir os conhecimentos adquiridos e fazer, no futuro, germinar o Grão deixado. O ensino destas matérias é praticamente inexistente no Cubal e, até agora, a maior dificuldade foi ter de seleccionar alunos. De salientar a necessidade de ressuscitar uma sala de informática - cemitério de computadores – para tornar o curso possível. Tendo em conta que nunca tínhamos aberto um computador, conseguir pôr 8 a funcionar foi uma proeza!

Vamos também realizar um curso de Contabilidade e Gestão para a administração do Hospital e para outros trabalhadores da missão interessados.

Programámos ainda acções de formação esporádicas que irão incidir sobre temáticas como “O papel da mulher na sociedade”, “Formação cívica” e “Alimentação e Saúde Materno-Infantil”. Estas acções resultaram daquilo que foi a nossa avaliação conjunta das maiores necessidades da comunidade.

Ainda neste campo, o Grão está a desenvolver uma actividade importantíssima de apoio aos “apadrinhados” que são crianças carenciadas com histórias de vida difíceis e muitas dificuldades de aprendizagem. Iremos acompanhá-las dando explicações duas vezes ao dia, três vezes por semana.

Outras actividades

E não acabamos por aqui. Temos ainda o apoio à pastoral animando duas missas de Domingo (a das crianças e a dos jovens) e apoiando grupos como os escuteiros.

De modo a sensibilizar para a importância de uma comunidade limpa e ruas sem lixo (um grave problema por estas bandas) estamos a planear um “Dia Cubal Limpo” promovendo uma competição saudável entre os grupos de jovens existentes com o intuito de promover a recolha de lixo.

É de grande relevo a intervenção do Grão nas oficinas de carpintaria da Missão, com apoio na organização e estrutura deste projecto comunitário. Serão aqui desenvolvidas acções formativas, inventariação dos materiais e apoio através da projecção de móveis modelares para serem posteriormente produzidos.

De realçar por fim o esforço que a Carolina e o Tiago estão a fazer para acompanhar todos os projectos de obras que há na missão e para conceber novos projectos cuja necessidade de execução é prioritária.

Trabalho para fazer não falta e ainda muito ficou por dizer.

No dia de folga e apesar do isolamento em que estamos, tentamos aproveitar ao máximo a beleza da paisagem circundante, o rio com jacarés, a companhia uns dos outros e da comunidade que nos envolve.

Aiêé?! Tché! O Cubal cuia bué!


domingo, agosto 8

A chegada ao Cubal

Finalmente chegados ao Cubal. Já tivemos tempo e para planear a missão. Entretanto tivemos recepções extremamente emotivas e experimentámos todas as actividades que as Irmãs Teresianas desenvolvem cá (e não são poucas).

Neste post, focaremos os primeiros dias.

A viagem de comboio ficou adiada. Com os nossos 200kg de bagagem, viajar numa carruagem da linha de Benguela seria quase um acto de loucura. Felizmente, e mais uma vez com uma sorte incrível, conhecemos em Benguela dois engenheiros portugueses que nos ofereceram boleia a nós (e às nossas bagagens) até ao Cubal. Aproveitamos para agradecer toda a simpatia do Pedro e do Américo!

E assim seguimos nós durante duas horas numa estrada praticamente sem curvas e com uma paisagem incrível. Uma savana seca cheia de embondeiros e pedras graníticas cujas formas e disposição criam formações rochosas bastante engraçadas.

Fazer esta viagem em duas horas não seria possível há um ano atrás. Só em 2009 a estrada de Benguela ao Cubal foi alcatroada. Até lá existia uma estrada de terra batida e os 150km que separam as duas cidades levavam um dia inteiro para serem percorridos.

O Cubal. A primeira imagem que fica é da estação de comboios e dos armazéns, que outrora estavam cheios de cereais produzidos na região que eram aí armazenados e posteriormente levados na linha de comboio para fornecer não só a província como todo o país.

Anos depois da guerra terminar, o Cubal ainda está parcialmente abandonado e muitos bairros encontram equilíbrio diário através do incrível trabalho das irmãs na missão.

A missão é a 3km da cidade e está localizada junto de bairros mais desfavorecidos. As Irmãs Teresianas que residem aqui no Cubal dedicam a sua actividade a uma escola, a um hospital (que é um hospital de referência na província e que conta também com um centro paradoenças infecto-contagiosas), a apoiar oficinas de mecânica, carpintaria e actividade agrícola para dar emprego à população e ao serviço social (que inclui explicações a crianças com vidas mais complicadas “os apadrinhados”).

Trabalho para fazer há muito, mesmo com a quantidade de horas que as irmãs se dedicam à comunidade. A estrutura de apoio que montaram é incrível, no entanto as carências são imensas.

O Grão tem vivido na ânsia de concretizar, de se envolver e de viver aquela que esperamos que seja a primeira missão no Cubal.